A Rússia frente às sanções internacionais
O conflito entre Rússia e Ucrânia que eclodiu no dia 24 de fevereiro, mas que possui raízes bastante profundas, além de ter causado grandes desafios para a segurança internacional europeia, também impuseram diversos desafios para a economia e comércio internacionais. A ascensão da narrativa de Moscou em torno do avanço da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para próximo das suas fronteiras e as reivindicações Russas no território Ucraniano sempre se apresentaram como questões bastante delicadas para o relacionamento entre o Kremlin e os países integrantes da OTAN e da União Europeia. As exigências da Rússia para o fim da expansão da OTAN em direção aos países da antiga zona de influência da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) não constitui fato novo, desde o fim da Guerra Fria, Moscou apenas atualizou as suas exigências junto aos países Ocidentais cobrando aos seus dirigentes que respeitassem as promessas que haviam sido feitas a Mikhail Gorbachev antes do esfacelamento da URSS, de que a Organização militar do ocidente não avançaria para além da zona de influência russa.
Desde o reconhecimento por parte do Presidente Russo, Vladimir Putin, no dia 21 de fevereiro da independência dos territórios de Donetsk e Lugansk. A Rússia vem sofrendo diversas sanções por parte da União Europeia (UE), Estados Unidos (EUA) e diversos países ao redor do mundo, com isso, o país se tornou um dos que mais possuem sanções impostas contra si, com mais de 6.000 sanções impostas contra o país, pessoas influentes e políticos. O país tornou-se um importante exportador devido aos seus enormes recursos naturais tendo no petróleo, gás natural, metais e commodities os principais dentro da pauta exportadora do país. Desde a invasão Russa na Ucrânia a economia do país foi posta à prova sob fortes pressões internacionais, coordenada principalmente pelos EUA e países da UE. Além disso, diversas empresas privadas acabaram anunciando a sua saída do mercado russo, redes sociais como Youtube e Facebook cancelaram a monetização de canais russos, impactando diretamente no isolamento da população.
Outro fator que causou muitos impactos na economia do país, foi a exclusão de alguns bancos russos do sistema SWIFT, com essa medida os bancos russos atingidos ficam impedido de terem acesso a qualquer dinheiro do exterior tornando mais difícil para empresas e pessoas físicas de pagarem por importações e exportações e até mesmo dificultando o acesso a empréstimos e investimentos estrangeiros. Todos esses fatores juntos fizeram com que agências de riscos internacionais considerassem a Rússia como uma nação em risco eminente de calote, tal classificação fez com que diversos investidores estrangeiros retirassem os seus investimentos do país a exemplo da petrolífera russa Gazprom, que foi afetada com a interrupção de diversas parcerias e rompimento de diversos contratados ao redor do mundo. O rublo, moeda russa, foi impactado diretamente, neste sentido, é provável que o país deva passar por um momento de alta na inflação e descontrole econômico.
Ainda que o cenário se apresenta como catastrófico para o governo de Vladimir Putin, a interdependência da economia global faz com que o Ocidente acabe sendo mais prudente ao sancionar um país que possui um importante papel no abastecimento de commodities e de energia, principalmente para os países europeus. As sanções sobre produtos como petróleo, gás, grãos e fertilizantes não foram totais, mas a proibição imposta aos navios de bandeira russa e as restrições do espaço aéreo Europeu torna a logística mais complexa e faz com que a cotação desses produtos seja puxada para cima. Consequentemente, essas problemáticas acabam impactando os mercados independentes desses produtos como as economias Europeias que se viram pressionadas a diversificarem de pronto a sua pauta energética.
Posto todos os fatores acima, a economia Russa ainda resiste, indo de encontro a todas as previsões, o país não deixou de pagar os seus credores. Os atuais movimentos adotados por parte do Banco Central russos foram bastante imediatos, Elvira Nabiullina, atual presidente da instituição, subiu os juros básicos da economia de 9,5% ao ano para 20% com o intuito de controlar a inflação e manter os níveis dos investimentos estrangeiros a um grau aceitável. Ainda que o cenário de guerra seja recente, desde o ano de 2014 o Kremlin vem aumentando consideravelmente a capacidade da economia russa em superar a dependência do Ocidente, sobretudo nos setores financeiros, o Banco Central, por exemplo, buscou a diversificação das suas reservas diminuindo a participação do dólar. Além disso, os russos já podem contar com um cartão de pagamento totalmente nacional, que atualmente já se encontra presente no bolso de 87% da população. Ademais, a exclusão dos bancos do sistema SWIFT, já pode ser superada devido ao desenvolvimento de um sistema próprio de transferências internacionais, o Sistema de Transferência de Mensagens Financeiras do Banco da Rússia (SPFS), que se encontra em funcionamento desde 2014 contando com a participação de bancos de 23 países.
Independentemente de todas as questões expostas e o cenário desfavorável, a Rússia vem manejando de forma bastante interessante a situação, de forma que, os efeitos causados podem acabar afetando diversos países de forma negativa fazendo com que os efeitos do conflito russo-ucraniano sejam amplificados pelas imposições dessas sanções em um país que adquiriu importância vital nas questões energéticas e comerciais globais.
Autor: Vinícius Teles
Referências Bibliográficas:
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