Tabaco: reencontro com um antigo conhecido
O modelo econômico baseado na agroexportação acompanha o Brasil desde os primórdios da ocupação colonial pelos portugueses. Ao longo da história esse perfil de exportação gira em torno de um produto específico, primeiro observa-se a primazia da cana de açúcar, do açúcar em si como produto manufaturado, posteriormente observa-se a ascensão do café, e então a “marcha para o norte” e o Ciclo da Borracha, que é substituído para o que hoje conhecemos como primazia da soja, o carro chefe das exportações brasileiras.
Entretanto, é notável a existência de um produto que acompanha todos esses grandes ciclos. Ainda que não tenha ocupado por muitos anos o topo das exportações ou o lugar de principal produto de exploração comercial brasileira, o tabaco sempre foi um insumo bem aproveitado e responsável por números interessantes de venda como área de exploração comercial. Tradicionalmente consumido pelos povos originários das Américas, o tabaco ganha lugar de destaque nas sociedades europeias a partir dos processos de exploração na colonização e se consolida como um commodity essencial à economia brasileira, produzido principalmente na Bahia, na região do Recôncavo Baiano e especialmente no século XVIII, no auge da exploração colonial e da mão de obra escravizada, como destaca o historiador Gustavo Lopes Acioli (2002) que corrobora o argumento de papel vital do tabaco na consolidação da economia colonial e imperial brasileira.
A exportação do produto passa por uma série de quedas e altas em seus números, e reaparece recentemente como uma oportunidade interessante a ser explorada. Os dados do Comex Stat revelam um aumento de 5,6% no número de exportações de tabaco em bruto se comparado aos meses de Jan-Fev de 2020. Em termos de produção isso representa o aumento de 66% do número de toneladas exportadas do produto, tendo como principais destinos a Alemanha e a Indonésia respectivamente. Enquanto, neste segmento, a Bahia se consolida como principal Estado brasileiro produtor desse insumo. Essa tendência de crescimento se mantém constante desde 2018, com aumentos substanciais no número de exportações que se mantém até os dias atuais.
Em relação ao tabaco descaunilado ou desnervado, os números são ainda mais animadores, e chegam ao número de 25% de aumento no valor de exportações em dólares e 45% de aumento no número de toneladas, chegando a 61.646. Um número considerável levando em consideração o histórico brasileiro. O que parece orientar uma guinada para retomar os números do período de 2014, que chegaram quase a US$ 450 milhões, o melhor desempenho registrado na história recente, segundo o Comex Stat. Os principais destinos também estiveram principalmente na Ásia e na Europa, com a China sendo o principal destino, os Países Baixos, e nesse caso, aparece os Estados Unidos como um destino potencial na América do Norte. As principais UFs de exportação são o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e a Bahia. Posto isso, salientamos o papel do produto como um possível mercado a ser explorado nesse momento por novos produtores aqui no Brasil.
Autor: Heitor Torres
REFERÊNCIAS
ACIOLI, Gustavo. A ascensão do primo pobre: o tabaco na economia colonial da américa portuguesa – um balanço historiográfico. Sæculum – REVISTA DE HISTÓRIA [12]; João Pessoa, jan./ jun. 2005
Ministério da Economia, COMEX STAT disponível em: <http://comexstat.mdic.gov.br/pt/comex-vis.> Acesso em março de 2021.